Penso que essa é uma das raras vezes que não preciso de
muito tempo para reparar em alguma coisa, e olha que sou muito ruim em reparar
alguns detalhes, ainda mais detalhes que envolvam outras pessoas. Minha
primeira namorada, por exemplo, tinha pênis, e só reparei depois de três meses
de namoro. Mas isso é coisa do passado (um passado dolorido por sinal).
Mas onde diabos quero chegar? Simples, meus caros, no mais
simples papo de professor. Eu comecei a dar aulas em uma escola municipal aqui
no Rio de Janeiro há um pouco menos que um mês. Estou dando aulas para turmas
de 6° e 7° anos, com a idade dos alunos variando entre 11 a 13, talvez 14 anos.
Crianças. Melhor (ou pior), pré-adolescentes e pequenos adolescentes. E sempre
escutei dos meus amigos que dão aula nas escolas municipais que é quase uma
guerra diária tentar dar aula. E é, não minto. O melhor da minha “Pedagogia
Maquiavélica” (pedagogia que tem como base o clássico “O Príncipe”, de
Maquiavel, um dos meus livros prediletos, por sinal) eu venho gastando com essa
molecada. Tem horas que pergunto para eles onde posso tirar a pilha deles para
eu ter um pouco de sossego, de tão inquietos que eles são. Ser professor de
turmas nessa faixa etária exige, acima de tudo, paciência e preparo físico.
Porém, se vocês me perguntarem se estou gostando da
experiência, responderei que sim, pois, primeiramente, é uma experiência
inédita pra mim dar aula para essa faixa etária, eu tenho mais ou menos cinco
anos de magistério e só havia trabalhado até então com alunos acima de 16 anos.
Então tenho achado um tanto proveitoso, pelo menos até agora. Mas o mais
interessante é que, ao mesmo tempo em que não raro me corta o coração por ver
que muitas dessas crianças não recebem uma educação muito boa dos seus pais,
correndo o sério risco de perpetuar hábitos e atitudes ruins que seus pais lhes
passam, por outro lado eu acho comovente a dedicação de muitos deles nos
estudos, mesmo que ao mesmo tempo, aprontem a ponto de deixar meus lindos
“dreadlocks” em pé. Dedicação esta que atribuo principalmente à questão de eles
serem carentes de atenção, principalmente no ambiente familiar, e a tarefa de
preencher esse vazio sobra, na maioria absoluta das vezes, para nós, professores.
Então boa parte deles se empenha nas atividades escolares para que o professor
dê uma atenção a eles, mesmo que eles saibam que o professor vai falar que o
trabalho está precisando de algumas correções, por exemplo.
A graça de ser professor é essa: o salário é baixo, a
cada dia que passa a educação parece perder – injustamente, lógico – a sua
importância tanto para o governo quanto para a sociedade em geral, que não dá o
devido valor à educação e aos seus profissionais e outros tantos problemas que
atravessamos na área educacional, mas, enquanto existir um aluno precisando de
ajuda, seja ele criança ou adulto, existirá o sentido em ser professor. Durmo
sempre com a consciência tranquila de, ao menos, tentar fazer a minha parte,
que pode não parecer muito pra mim (nunca me pareceu na verdade, mas sou um
megalomaníaco) ou pra outras tantas pessoas. Mas para esses alunos, cada
palavra carregada de atenção e carinho que os professores lhes oferecem é
muito. Por isso que, mesmo ficando até doente por conta da minha profissão,
ainda amo, e muito, o magistério. Por isso que sempre dou razão a quem fala
que dar aula, acima de tudo, é um ato de amor. Um amor que te trata como mulher
de malandro quase diariamente, mas... É amor.
Um comentário:
OINNNNNNNN....
Que lindo!
Por isso que eu quero dar aula um dia.
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