Falemos uma
verdade: os tímidos são as pessoas mais egocêntricas do mundo. Quem não é
tímido vai dizer que exagero em minhas palavras, mas o tímido, tentando se
esconder no canto da sala e ruborizado, dirá que me dá razão, mas vai fazê-lo
baixinho, pra não chamar muita atenção.
Quem olha o
título desse texto pensa até que vou polemizar, mas na verdade foi uma
estratégia para você, caro leitor, ficar curioso. Eu, enquanto “Ph.D” na arte
de ler manchetes de jornais popularescos em coletivos lotados como os metrôs e ônibus
da vida, aproveitei a oportunidade para testar um método bastante utilizado no
jornalismo: uma manchete forte, polêmica, mas o texto acaba sendo chapa-branca boa
parte das vezes. Pois bem, na verdade, o tímido não é um egocêntrico daqueles de
proporções personalistas ilimitadas, como os ditadores que a fina ciência da fofoca, a História,
nos apresentou nos tempos de escola. Na verdade o tímido está mais para “bipolar”
do que para egocêntrico, pois o tímido se solidariza com a dificuldade cotidiana
dos outros tímidos, até porque ele sabe o grau de dificuldade de se relacionar
com pessoas desconhecidas – e também com as conhecidas.
Mas o tímido
peca, mesmo que inocentemente, em pensar que o mundo gira em torno da sua
pessoa. Sim, para o tímido o mundo conspira contra, sempre. Acham que o mundo depende de sua reação frente
aos obstáculos mais banais (porém enormes, para os tímidos) do nosso cotidiano.
E mais: o mundo não está esperando uma reação do tímido, ele espera mais. Tal
qual um telespectador do programa do Datena, o mundo espera uma “desgraça” para
ver o tímido em evidência (através de um tropeço, uma gaguejada, ou seja, através de uma situação
qualquer em que as atenções fiquem voltadas para o tímido), coisa que o tímido
odeia. É mais do que ser egocêntrico, é achar que o mundo espera atentamente
sua desgraça, que acaba se desdobrando num suposto dom do tímido de prever o
futuro, pois confiante no que o mundo pode fazer para atacar sua pacata
timidez, o tímido, munido do dom de prever o futuro, tenta se proteger desse
ataque brutal das relações interpessoais. Eles chegam ao ponto de “roteirizar”
os acontecimentos mais ridículos do cotidiano:
- É fácil:
vou à padaria, peço a quantidade de pães que eu quero, o sujeito me dá os pães,
eu pago e ta tudo certo. Não esquecer de ser educado, mas não tão educado a
ponto do atendente puxar assunto. Pra quê o pânico?
...
- Amigo, por
favor, me vende um pão, por favor?
- Bisnaga, pão
francês, pão doce ou pão de forma?
- Er, hã...É
que... Puxa, essa parte não ensaiei. Sou péssimo com improviso...
Claro, o
tímido não faz isso por mal. Como eu disse, é uma tentativa de proteção diante
das relações interpessoais. Então, meu amigo, entenda o tímido. Ele não é
egocêntrico por querer. Na verdade, se ele não parar pra pensar, ele vai achar
que essa de ser egocêntrico é coisa de quem gosta de aparecer, mas não é bem
por aí. Compreenda que o tímido é como um animal selvagem, pois, antes de ser “domesticado”
(no caso, começar uma relação com um tímido, por mais banal e impessoal que ela
seja), é preciso uma distância segura para o tímido ter confiança e aí sim começar a
se relacionar. Simples assim. Agora, só não fale que você leu esse conselho partindo
de mim porque, como bom tímido, não gosto muito de ser colocado em evidência. Fale
que você leu isso num texto do Luis Fernando Veríssimo e ta tudo certo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário