Tem horas
que penso que eu acabo me expondo muito por aqui, pois como vocês já devem ter
percebido, grande parte do conteúdo do blog é autobiográfico. E
essa exposição, na maioria das vezes, beira ao ridículo, porque tem
situações que acontecem comigo (cotidianamente!) , que, sinceramente, beiram ao
fantasioso. Mas por outro lado é meio tarde para eu parar de contar alguns
"causos" que acontecem comigo, ainda mais porque vejo que quem visita
o blog vem justamente ler essas histórias (as estatísticas me dizem isso).
Pois bem:
acho que nunca contei para vocês, mas minha casa sofre com a presença de um
fantasma. E o fantasma tem nome, CPF, número de telefone e pelo que percebi,
tem também nome sujo na praça.
Edivaldo é
presença constante aqui em casa desde que nos mudamos para cá, há quase doze anos.
Não sei se o trouxemos numa das gavetas dos armários ou se ele já estava
por aqui, mas o que importa é que temos conhecimento da existência de Edivaldo
desde que nos mudamos para cá. E ele é discreto. Não nos assusta, não fica
arrastando correntes, não pega no nosso pé enquanto dormimos; só lembramos de
Edivaldo quando o telefone toca.
Muitos
procuram Edivaldo: bancos, principalmente. Eles ligam ou para cobrar algo dele ou para oferecer algum empréstimo com "prestações a perder
de vista e juros baixos". É terrível. Só quando telefonam para cá
procurando por Edivaldo que sentimos que estamos num "thriller" de
terror, onde o vilão é uma figura que atende pelo nome de "operador de
telemarketing".
Já tentamos
de tudo para afastar Edivaldo e seus algozes de nós: tentamos falar educadamente
que não há nenhum Edivaldo morando aqui, já xingamos quem ligava o procurando,
deixamos de atender ligações, por medo de que estivessem procurando Edivaldo (medo
nada, falta de paciência mesmo), até mesmo num ato desesperador, mas corajoso, trocamos
de número de telefone (duas vezes!), para que esse filme B de terror acabasse.
Mas tudo foi em vão.
E o sentimento
que eu, particularmente, tenho por Edivaldo mudou ao longo do tempo: de ódio
mortal a compreensão. Mas alto lá, compreender não é aceitar, ainda mais quando
ligam para minha casa justamente em horas em que estou concentrado em algo ou
mesmo tirando aquela soneca gostosa. Mas nesses anos todos convivendo com
Edivaldo (ou algo parecido com isso), me pus no lugar dele diversas vezes, e isso
me fez ficar um tanto resignado com a situação. Vejam bem, se eu, que faço um
esforço monstruoso para não me endividar e fico pra morrer toda vez que bancos
me ligam sedentos em me disponibilizar um empréstimo, com Edivaldo talvez não
tenha sido diferente. Talvez ele suportou o tempo que conseguiu, mas não resistiu
e foi dessa para melhor, ou seja, ou morreu, ou deu um jeito de dar o telefone
de outros trouxas para não ser incomodado. Ou ainda ele pode ser um fantasma
que, para baratear os custos, deu um número no mundo terreno para que as
pessoas jurídicas pudessem manter contato com ele sem gastar com interurbano
para o Além, que suponho que as tarifas sejam pela hora da morte. Acho que
nunca saberemos, mas é aí que mora a graça. Mas se por um acaso vocês
encontrarem o Edivaldo por aí, falem com ele para ele pagar logo essas contas,
por favor. Eu e minhas sonecas vespertinas agradeceremos se não formos mais
incomodados.
Um comentário:
Hahahahahaha, foooda.
Esses fantasmas 171s são os piores!
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