"My ideas are only for the audience's ears
For my opponents, it might take years
Pencils and pens, are swords
Letters put together form a key to chords
I'm also a sculpture, born with structure
Because of my culture, I'm a rip and destruct the
Difficult styles that'll be for the technology
Complete sights and new heights after I get deep
You don't have to speak just seek
And peep the technique"
(Eric B. & Rakim, "Don't Swear The Technique" - https://www.youtube.com/watch?v=6Y1Emb7Jyks)
Esqueçam por
alguns minutos os clipes regados (literalmente) a champanhes caros e com
mulheres de traseiro maior que o estado de Minas Gerais, ou os cordões de ouro do
tamanho de uma roda e cravejados de diamantes, as calças caídas quase até o
joelho, aos horrorosos bonés de aba reta, ou ainda as brigas de gangue e aos picaretas
que tentaram pegar carona na grandeza na cultura hip hop. “Então, Flavio, se
você pediu pra esquecermos disso tudo que é associado ao hip hop, você vai
falar de hip hop instrumental?” HÁ-HÁ-HÁ. Não, anta. O papo é sim sobre hip
hop, mas é a partir de uma abordagem bastante particular. Falarei como o hip
hop mudou a minha vida.
Tive a idéia
de escrever sobre isso ao ver uma camiseta com a frase “O hip hop salvou minha
vida”. Na verdade, já tinha cansado de ver essa camiseta (até comprei uma, por
sinal), mas pela primeira vez me perguntei se essa afirmação pra mim era
verdade. E, apesar de eu não escrever raps, não entender muito de batidas, de
grafite e muito menos de dançar break, digo sem pensar muito: o hip hop salvou
minha vida, sim.
Essa "salvação" foi feito na minha entrada da
adolescência. Pela primeira vez na minha vida, graças ao empurrãozinho que o
hip hop me deu para começar a escrever, vi que eu tinha um canal que eu poderia
falar sobre o que eu via, vivia e sentia. A partir daí, eu comecei a escrever
textos, principalmente poesias. Se, por exemplo, eu tivesse a oportunidade de
mostrar a vocês meu primeiro caderno de poesias, vocês veriam que a influência
do rap é enorme, seja nos temas (e na contundência que mostro ao falar de
qualquer tema que me vinha à cabeça), seja no tamanho das poesias. Costumo
dizer que as letras de rap me abriram as portas para o maravilhoso mundo da
poesia e da escrita em geral, por isso o fato de eu dizer que o estilo musical salvou minha vida, por me abrir novos horizontes. Brinco (mas com um quê de verdade) que se hoje
conheço Vinícius de Moraes foi porque os Racionais Mc’s me apresentaram a ele.
E a busca por aprimorar as coisas que eu escrevia me levou, de uma forma
natural, a procurar como os grandes mestres da literatura escreviam. Partindo
desse ponto, vi que eu poderia fazer algo que tivesse a minha cara, misturando
o que eu conseguia absorver da poética, das histórias das letras de rap e do
que eu absorvia de mais criativo da literatura. Assim, vários de mim que eu não
conhecia (alguns até que conheci depois de homem velho, imaginem só) afloraram
nas coisas que eu escrevia: o contestador, o apaixonado, o sarcástico, o
econômico nas palavras, entre outros tantos Flavios que povoam minha cabeça.
Para mim, o hip hop acabou sendo muito mais do que uma mera influência nas
coisas que eu escrevia: foi, acima de tudo, um passaporte para meu autoconhecimento.
Com o hip hop me descobri mais forte, mais crítico, mais sensível aos males do
mundo, fora a constatação de que eu tinha (e tenho!) muita coisa pra
compartilhar com o mundo.
O hip hop,
apesar do seu lado que não me identifico (que, admito, tem até seu lado legal, mas que, como coloquei no início do texto, esqueçam dele um pouco e se aprofundem no que é mais contestador, criativo e/ou inovador no estilo), foi, e é, uma força que exerce grande
influência no pavimentar dos meus caminhos em vida. Ele colaborou no molde da
minha personalidade e na minha visão sobre o mundo. Creio que o mínimo que
posso fazer é dar um enorme obrigado a coisa que foi a força para tantas
mudanças e a trilha sonora de tantos capítulos da minha vida. Obrigado, hip
hop!
Um comentário:
Acredito que para você foi mais que salvar a sua vida, mas começar a viver. Imagino que você já tivesse muito para compartilhar, tendo em vista o "observador" inerente à sua pessoa, mas talvez pela timidez isso não fosse tão possível. Cada humano tem a sua vocação para se comunicar, e graças às letras do hip hop você tornou-se amigo das letras. Escrever é o seu forte, e observo o quanto você escreve, inclusive falando. Eu sou do tipo falador, escrevo como falo. Você fala como escreve :)
Agora me deixa provar aqui que eu não sou um robô e submeter meu comentário... Beijos! Sua fã :D
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