Não lembro
exatamente o porquê do assunto surgir ali, naquela hora. Se não me engano, foi
a partir de uma pergunta de um dos alunos sobre colonização portuguesa, que
respondi e a partir daí o assunto fluiu. E o assunto era um dos mais
espinhosos: RACISMO. Não espinhoso por ser "polêmico", até porque
como professor negro, de origem humilde e dando aula numa das comunidades mais
conturbadas do Rio de Janeiro, eu não poderia nunca sair pela tangente diante
de tal assunto. Mas talvez, na inocência que ainda carrego, acreditei por um
instante que a cabecinha deles poderia dar asas a "lugares comuns"
que insistem em empurrar goela abaixo ao nosso povo, para que ele continue onde
está e como está.
Mas eu
estava errado. Ainda bem.
Mais
recompensador em sentir que eles prestavam atenção na minha fala (já que uma
das regras de ouro que aprendi dando aula é que os alunos muitas vezes adoram
escutar as nossas experiências de vida) foi ver que eles também tinham algo a
dizer. Opiniões contundentes e histórias tão tristes (ou mais tristes) de ser vítima de preconceito e
discriminação quanto as minhas. Isso de crianças de 12,
13 anos.
Infelizmente,
tive que alertá-los que histórias chatas como essas tem grandes chances de se repetir
ao longo da vida deles. Elas se repetiram comigo, que não moro em comunidade,
sou funcionário público, não tenho antecedentes criminais... Mas mesmo assim morro
de medo da Policia Militar e odeio ir a bancos por conta do racismo
institucional, fora o racismo cotidiano que está nas entranhas da nossa
sociedade.
Mas falei
que eles são o futuro. Que eles são os donos de seus destinos. Que o combate ao
racismo, ao machismo, a desigualdade social é problema meu, é problema deles, é
problema de todo mundo. Mas que eles tem a cabeça mais fresca para continuar as
mudanças que, vagarosamente, acontecem no Brasil nos últimos 15, 20 anos. Que eles não permitam que as
suas vozes sejam caladas por quem tem medo de gente como a gente.
E eles
sorriram.
E eu sorri
mais ainda, com lágrima nos olhos.
E vi que
mesmo na minha turma mais indisciplinada (e de meus alunos mais indisciplinados
dessa turma, que foram os que mais participaram dessa breve discussão) podemos
aprender muito. Mais do que isso, aprender a ter esperança e confiança que
estamos fazendo um bom trabalho.
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